Rio de Janeiro, 18 de junho de 2020.
Preciso escrever pra tentar aliviar.
Ontem vi uma entrevista rara com a Clarice Lispector e ela que é um dos grandes nomes da literatura brasileira, apesar de nascida na Ucrânia, fala sobre si com tanto pesar, que soa como um tipo de humildade, mas no olhar carrega tristeza e uma intensidade que quase se confunde com apatia. Ela diz "hoje estou triste porque estou cansada, mas no geral sou alegre". Cansada de quê? "De mim", ela responde.
Cansada de mim.
Engraçado isso. Imagino que realmente seja cansativo até para os mais otimistas. Ser você, mesmo sem saber direito o que se é, sem poder fugir daquela condição, é até meio desesperador. Por isso eu durmo. Durmo e sonho. Sonho muito e durmo mais ainda. Perco o dia mas o que há para perder quando você não tem interesse em encontrar nada?
Eu queria ser dessas pessoas que já nasceram com um cérebro cheio de alegria. Parece até um insulto ser alegre neste mundo. Eu sei, estou tomada agora por uma fúria triste e por uma onda de pessimismo. Sei que existem coisas lindas e milagrosas no mundo... Mas me sinto tão distante delas. Algumas vezes eu consigo agradecer pelo ar que respiro, pela minha história, por ser quem sou. Mas não hoje. Hoje eu só consigo vegetar - talvez porque tenho esse privilégio.
É muito comum a gente ouvir "menina, desde quando pobre tem depressão? pobre não tem tempo pra isso, não!", e eu compreendo o que isso quer dizer, mesmo que seja um engano, uma mentira. As vezes a mente ocupada não faz oficina pro diabo, não é isso? Mas eu me sinto tão vazia, minha oficina tá sem ferramentas, com ideias confusas (elas até existem mas é difícil virar ação). Não acredito em mim. Profiro mentalmente palavras de descrença e desprazer.
Não me olho no espelho há tempos. Nos últimos 10 dias, só cozinhei 1 vez, isso significa que comi muito mal. Na última semana inteira, só me alonguei e corri 1 vez, o que significa que o corpo tá rígido e a mente mais ainda. Muita cama, muita televisão, muito celular. As únicas coisas que salvam são abraçar meus gatos e conversar com a minha mãe.
Eu e minha mãe somos um caso sério, mas acho que estamos dispostas. Eu me sinto incrivelmente energizada e valorizada quando a gente consegue passar um dia todo em harmonia. É importante pra mim. Hoje ela fez cuzcuz, ontem acordei 2h da tarde e tinha almoço. Conversamos bastante. Rimos. Acho que isso é amor, né? Parece que sim.
Sigo sem planos, sem atitudes. Sigo querendo enfiar a cabeça num buraco e esperar a estação passar. Tenho percebido que é sobre isso também, acolher minha tristeza aparentemente sem motivo. Um belo dia eu acordo cansada de hibernar, e levanto animada pra fazer algo por mim, consciente de cada escolha do meu dia. Tenho dias bons e dias ruins, mas os dias bons duram pouco. Acho engraçado que se me oferecessem um alucinógeno que fosse capaz de me dar gás eu talvez aceitaria, mas tenho resistência em tomar medicação. No fundo eu queria que meu despertador todos os dias me dissesse frases motivadoras e me guiasse: "bom dia! vai tomar um banho antes de enfiar a cara nas redes sociais. Não leia as piores notícias pela manhã. Se olha no espelho: caraca, sua pele tá boa! Passa um creminho no cabelo que ele fica jeitoso." E aí seria bem legal ele também dizer coisas assim: "Tá na hora de fazer aquele almoço gostoso. Olha o que temos na geladeira: aposto que dá pra fazer essa receita, vai ficar demais!" E aí ele podia me incentivar a dançar... Me lembraria da pausa pra olhar pela janela... Me diria que talvez fosse bom ler sobre aquele assunto que desconheço pra realizar a tarefa acadêmica... Sei lá, eu acho que quero ser cuidada, porque sou uma criança. Uma criança triste. E carente. Um abraço silencioso talvez fosse bom. Que saudade de abraçar! A sensação de um abraço sincero é inigualável.
Ok, aí eu digo pra mim mesma que sou eu meu relógio, meu despertador, meu adulto acolhedor que abraça a si mesmo. Mas cansa, né? Tem dia que dá, mas a esmagadora maioria dos dias, eu falho nessa missão. E me deixo largada e sozinha com meus piores pensamentos. O mal está vencendo o bem. Estou perdendo pra mim mesma.
Preciso escrever pra tentar aliviar.
Ontem vi uma entrevista rara com a Clarice Lispector e ela que é um dos grandes nomes da literatura brasileira, apesar de nascida na Ucrânia, fala sobre si com tanto pesar, que soa como um tipo de humildade, mas no olhar carrega tristeza e uma intensidade que quase se confunde com apatia. Ela diz "hoje estou triste porque estou cansada, mas no geral sou alegre". Cansada de quê? "De mim", ela responde.
Cansada de mim.
Engraçado isso. Imagino que realmente seja cansativo até para os mais otimistas. Ser você, mesmo sem saber direito o que se é, sem poder fugir daquela condição, é até meio desesperador. Por isso eu durmo. Durmo e sonho. Sonho muito e durmo mais ainda. Perco o dia mas o que há para perder quando você não tem interesse em encontrar nada?
Eu queria ser dessas pessoas que já nasceram com um cérebro cheio de alegria. Parece até um insulto ser alegre neste mundo. Eu sei, estou tomada agora por uma fúria triste e por uma onda de pessimismo. Sei que existem coisas lindas e milagrosas no mundo... Mas me sinto tão distante delas. Algumas vezes eu consigo agradecer pelo ar que respiro, pela minha história, por ser quem sou. Mas não hoje. Hoje eu só consigo vegetar - talvez porque tenho esse privilégio.
É muito comum a gente ouvir "menina, desde quando pobre tem depressão? pobre não tem tempo pra isso, não!", e eu compreendo o que isso quer dizer, mesmo que seja um engano, uma mentira. As vezes a mente ocupada não faz oficina pro diabo, não é isso? Mas eu me sinto tão vazia, minha oficina tá sem ferramentas, com ideias confusas (elas até existem mas é difícil virar ação). Não acredito em mim. Profiro mentalmente palavras de descrença e desprazer.
Não me olho no espelho há tempos. Nos últimos 10 dias, só cozinhei 1 vez, isso significa que comi muito mal. Na última semana inteira, só me alonguei e corri 1 vez, o que significa que o corpo tá rígido e a mente mais ainda. Muita cama, muita televisão, muito celular. As únicas coisas que salvam são abraçar meus gatos e conversar com a minha mãe.
Eu e minha mãe somos um caso sério, mas acho que estamos dispostas. Eu me sinto incrivelmente energizada e valorizada quando a gente consegue passar um dia todo em harmonia. É importante pra mim. Hoje ela fez cuzcuz, ontem acordei 2h da tarde e tinha almoço. Conversamos bastante. Rimos. Acho que isso é amor, né? Parece que sim.
Sigo sem planos, sem atitudes. Sigo querendo enfiar a cabeça num buraco e esperar a estação passar. Tenho percebido que é sobre isso também, acolher minha tristeza aparentemente sem motivo. Um belo dia eu acordo cansada de hibernar, e levanto animada pra fazer algo por mim, consciente de cada escolha do meu dia. Tenho dias bons e dias ruins, mas os dias bons duram pouco. Acho engraçado que se me oferecessem um alucinógeno que fosse capaz de me dar gás eu talvez aceitaria, mas tenho resistência em tomar medicação. No fundo eu queria que meu despertador todos os dias me dissesse frases motivadoras e me guiasse: "bom dia! vai tomar um banho antes de enfiar a cara nas redes sociais. Não leia as piores notícias pela manhã. Se olha no espelho: caraca, sua pele tá boa! Passa um creminho no cabelo que ele fica jeitoso." E aí seria bem legal ele também dizer coisas assim: "Tá na hora de fazer aquele almoço gostoso. Olha o que temos na geladeira: aposto que dá pra fazer essa receita, vai ficar demais!" E aí ele podia me incentivar a dançar... Me lembraria da pausa pra olhar pela janela... Me diria que talvez fosse bom ler sobre aquele assunto que desconheço pra realizar a tarefa acadêmica... Sei lá, eu acho que quero ser cuidada, porque sou uma criança. Uma criança triste. E carente. Um abraço silencioso talvez fosse bom. Que saudade de abraçar! A sensação de um abraço sincero é inigualável.
Ok, aí eu digo pra mim mesma que sou eu meu relógio, meu despertador, meu adulto acolhedor que abraça a si mesmo. Mas cansa, né? Tem dia que dá, mas a esmagadora maioria dos dias, eu falho nessa missão. E me deixo largada e sozinha com meus piores pensamentos. O mal está vencendo o bem. Estou perdendo pra mim mesma.
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