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Todo dia é um surto: agora registrados nesse diário online

Rio de Janeiro, 22 de maio de 2020.


Dá nem pra acreditar que quase chegamos ao meio do ano. "Então é fim de maio... E o que você fez?"

Minha cabeça tá doida mas o mundo tá muito mais. 

Na virada do ano eu tava em casa, passei sozinha, meia noite tomando um banho gelado e estava estranhamente feliz. Fui até a janela de toalha e pude ver um restinho da queima de fogos pelo céu da zona oeste. Não foi nada animador esse ano novo, foi tipo um dia normal. Botei uma brusinha bacana e tirei selfie. Troquei mensagem com alguns parentes e poucos amigos. Só os mais próximos em ambos os casos. 

O curioso é que eu tinha acabado de virar um ciclo, tava prestes a ficar 1 ano mais velha e também tinha acabo de ficar desempregada novamente. Muitas novidades. Voltar a conviver com a minha mãe, cuidar da minha saúde mental que estava gritando por socorro, ficar sem grana e deixar pra trás todo um passado de lutas e glórias. A sensação que eu tinha era de uma espécie de apocalipse. Eu sentia dentro de mim uma ansiedade enorme... Como se uma nova era estivesse de fato começando. Eu tive medo de guerra, tive medo de meteoro, aliens, algo desconhecido estaria chegando e eu não sabia o que era, mas era muito presente e urgente a necessidade de me proteger e me fortalecer. 

Eu penso muito, ultimamente, sobre aquela sensação que tive, porque agora, no meio de uma pandemia, parece que dá alguma liga, que faz algum sentido. E eu sinceramente acho que é só o começo. Na realidade, estamos vivendo em um lugar não somente cheio de dualidades, mas também de mil interferências outras que nossa pobre consciencia limitada não pode identificar. Eu sou ambiciosa e gostaria de entender o maximo que puder, mas também sou medrosa e covarde então acho que pode levar muito tempo para as camadas da realidade se desvelarem para mim. 

Essa noite sonhei que estava em uma casa à beira do mar e uma dupla de policiais não fardados invadia, eu saia correndo e me escondia no primeiro lugar que conseguia, com muito medo, no quintal. Logo era descoberta e ameaçada com uma arma a sair dali, no que era levada para fora da casa, no caminho, num lapso de coragem eu usava a arma da policial para matar o outro que nos acompanhava. Eles foram pegos de surpresa e eu nem sabia q sabia atirar e nem que tinha sangue frio pra isso. Me doía o coração, mas eu olhava para a policial mulher, pedia desculpas com o olhar e desferia um tiro nela também. Saía então pela praia, lugar conhecido por mim, com a arma na bolsa, desolada e chorando por dentro, olhar meio apático, pensando que precisaria de um lugar pra jogar a arma. A sensação era de urgencia pela sobrevivencia, ainda que custasse algo moralmente falando. Acordei.

No sonho parecia que eu tinha total consciencia de classe como não sendo alvo principal da policia numa situação comum. Mas parecia que naquele mundo já não havia distinção. Ontem mais um jovem morreu na favela e ainda foi chamado de bandido. Que mundo pobre que a gente vive. Imagina como é dificil para as mães pretas que tem filhos homens nas periferias. "Foi assassinado pela policia". Quantas vezes eu já ouvi isso pessoalmente??? E pela televisão, então? Caralho, não é revoltante? Que mundo é esse? É um castigo pra gente ou será um desafio de tentar transformar as coisas? "Amar e mudar as coisas, como diria Belchior". Mas quanto sacrifício será feito? Dá pra ter esperança? Eu simplesmente aceito a fala da bíblia (minha referência até então de ensinamento religioso): "O mundo jaz do maligno". Então deve ser isso. 

Torço para que alguma alma iluminada se levante. Precisamos de mais Jesus Cristos no mundo. Mas ele era dotado de uma força extra terrena né? E será que a gente não é? Me falta coragem. Fico observando as pessoas realizando coisas úteis, e eu fico feliz por elas e pelo mundo que elas alcançam. Obrigada. 

Eu falo pra mim mesma que estou perdoada e não fiz nada de errado (controverso, não?), mas de vez em quando nas madrugadas de insonia eu penso: Ah! Que louco, eu poderia ter agora, nesse exato momento, um filho nos braços. Uma criança tão pequena, de apenas 3 meses. O que seria de nós? Será que eu fiz um favor à esse ser? Eu penso em adoção. Mas lembro que não acredito que um dia terei grana, mente bacana, tempo e energia pra isso. Acho que 1/10 de mim até acredita mas ainda não vislumbra. Tudo bem, pq pensar nisso, né? Podia mudar de pauta. Eu tenho uma estante cheia de neuroses, basta escolher. Minha melhor amiga tá grávida e desempregada. Terceiro filho, o marido trabalha na farmácia mas é um ótimo fotógrafo. Vai entender essa vida... Parece que tá tudo fora do lugar! Eu sempre tive medo de jogar GTA pq fugia dos golpes e não tinha coragem de atirar. No meu sonho eu sou capaz. Na vida real... O jogo é mais intenso e mais difícil. Espero que eu não seja a única pessoa desesperada.... Gostaria de me conectar a elas, se elas existem. Mas por enquanto sigo na minha solidão buscando a solitude, que as vezes vem, mas é tipo um passarinho que canta na sua janela de manhã e logo voa pra longe. 


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